terça-feira, 24 de maio de 2011

Vovô

Algumas vidas acabam tão tristemente
Que é melhor lembrar dos momentos bons,
Elevados a categoria de mágicos
Pelos olhos de quem conta tais peripécias...

Os papeizinhos picotados que caíam feito chuva de prata
Do céu de brigadeiro e encantavam a criança de mãos dadas com o pai.
Eram os anos 50, comemoração do IV Centenário
Da cidade de São Paulo.

Ou o feijão bem amassadinho com o garfo e regado a azeite.
O português amava azeite e sempre chamava sua filhinha
Para vir sentar-se ao seu colo e comer com ele.
Ou isso, ou um café gelado!

Houve uma Páscoa especial: como poderia um simples trabalhador,
Seu pai, lhe dar um ovo? Quanto mais o ovo crocante da Kopenhagen?
Mas assim aconteceu e ela, com mais de sessenta hoje, lembra-se dele
Como o melhor ovo de chocolate de sua vida.

Aquele senhor baixinho, um tanto atarracado, olhos enormes e tristes
Sempre teve o amor incondicional daquela filha:
Pelos momentos inesquecíveis que passou junto dele,
Pela natureza branda e cavalheiresca daquele homem.

sábado, 14 de maio de 2011

Fotografia

Leão, ascendente em Sagitário, lua em Áries.
É não sou fácil, bem sei...

Vaidosa, exagerada, mas ótima amiga.
Ansiosa, carinhosa, brejeira, melindrosa.
Volúvel, ciumenta, medrosa.
Sonhadora, desatenta e impaciente.
Desconfiada, insegura, egocêntrica.

Sorriso fácil, gargalhada alta, olhos que vêem longe.
Braços sempre prontos a envolver um amigo,
Adoro abraçar, demonstrar o que sinto...
Orgulhosa, chorona e leal até o último fio de cabelo,
O qual gosto de soltar - para sentir minha juba ao vento...

Gosto de ser livre...
Livre de qualquer jugo
Livre de preconceitos
Livre de cobranças
Livre para amar e sair de cena.

Não levanto bandeiras que não são minhas.
Minhas bandeiras são sutis, porém densas; delicadas, mas apaixonadas.
Quero de tudo um pouco.
Quero ser um porto seguro com um barquinho à deriva,
Quero ser um barquinho à deriva com um porto seguro.

Quero chegar aos noventa e não vou me contentar com pouco,
Quero olhar para trás com a certeza de que nunca desisti.
E quando souber que estou pronta, aos poucos vou me desligar,
Sonhando com as árvores de cerejeira
E suas flores e pétalas caindo como neve...

Flor de cerejeira, a mais pura manifestação da beleza,
Flor de cerejeira, para sempre comigo em meu corpo
Flor de cerejeira, emblema do código dos samurais,
Da guerreira que há em mim e que teve uma vida bela e digna,
Dentro de seus limites efêmeros, assim como os da sakura.

domingo, 8 de maio de 2011

Limites

Sonhos
Fantasias
Ilusões...
Quem souber nadar
Por turvas águas,
Assim mancomunadas,
Terá seus pés desancorados,
Respirará o ar concreto,
E avistará, ainda em meio
De sua falta de fôlego,
Os limites reais
Que separam
O azul do céu
Dos desenhos das nuvens
E o marrom da terra –
Clareza