quarta-feira, 3 de outubro de 2012

como assim?

Veio alguém lá do andar de cima e me disse:
seu tempo acabou!
-como assim?
ontem mesmo estava balançando aquela menininha no parque!
ontem mesmo a levava até à piscina, ou tirava as rodinhas de sua bicicleta!
agora vem alguém e me diz que o tempo acabou?
-como assim?
e quando dançávamos?
eu a guiando, seus pezinhos por cima de meus sapatos?
ou quando pedia um pedaço de seu sanduíche, e ela, receosa,
oferecia, mas sabia que não sobraria quase nada para ela...
depois da mordida ela olhava para seus dedinhos gordinhos segurando um naquito de pão...
-como assim?

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Adeus Tardio

adeus -
pois tudo em mim
clama por pontos finais,
embora, às vezes, tenha
que cravá-los sozinha.
adeus.

domingo, 12 de agosto de 2012

simples

eu queria beber o tempo...
e beber absinto... bebida de vampiros?
que seja; ser sobrenatural seria útil...
mas sigo bebendo minha coca-cola
inspirando o ar do mundo,
vivendo seus cheiros e lembranças,
aquelas que ainda se tornarão também...
quanta vida cabe numa garrafinha...

domingo, 29 de julho de 2012

perpassar

quando o dragão veio,
lutei coroada de agapanto para
do embate nascer  fogo purpúreo
e perfumar a face hostil da noite.
de nossas manobras,
rastros de cores suspensos no ar.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

worries

(to M & D)

i worry about you.
you worry about me.
isn't it time we stopped worrying
and started enjoying the infinite
possibilities of happiness
we can offer one another?
honestly, life is too short
to deliberately waste time
thinking of what can go wrong.
most of the time we could be doing so much else.
worries are amongst the most useless,
unfair feelings,
but when it finally hits you, you've already lived half
of your life.
sometimes I wonder...
shouldn't we have listened to the man when he sang
"don't worry, be happy" ?

quarta-feira, 16 de maio de 2012

03:30

dancing high
singing in key
sweet perfume -
that's what's left of me.
with the promise
of new days to come,
standing tall, standing free -
garbo disguised as a tree

                                                                        Foto: Dani Vantini

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Um certo menino

esse menino não é daqui -
nasceu com a cabeça pontuda.
chorava muito, dizem.
com o tempo, o rosto
transformou-se no de um querubim
e os olhos entregavam as
molecagens de um capetinha...

hoje me encanta a cada vez
que seus lábios se entortam num sorriso maroto
seus olhos me envolvem e, depois,
vem a gargalhada de se ouvir de longe.
finalmente seu abraço, do jeito que eu gosto,
abraço de urso, sem medo de entregar o que
carrega no coração.

temos sido amigos-irmãos há anos.
passei com ele, esse garoto apenas um par de anos mais novo que eu,
algumas de nossas maiores aflições e alegrias.
hoje foi o dia dele ser meu porto -
simplesmente me olhando,
rindo de mim, rindo-se dele mesmo
sendo quem é, me aceitando como sou.

como faz bem querer bem assim,
ser um bem, ter um bem assim.

~ calmaria ~

domingo, 8 de abril de 2012

Copycat

imagem em espelho de madrasta
entretem o olhar que, alheio ao eu,
pretende, entende, finge ser o que vê
enquanto escapa-lhe o que é -
exatamente tudo isso

terça-feira, 27 de março de 2012

Elas secam

como aquarelas abandonadas ao mau tempo
aquelas flores desbotavam,
começavam a desaparecer

cores escorriam como chuva em vidro
mas era como vida -
desmanchando-se em papel

de galochas e guarda-chuva passei pelo
jardim de guache tentando corar-lhe -
e ali deixei um botão

mas meu jardim já era um borrão -
cinza e aguado - e o vento
esturricou as pontinhas vermelhas do botão

uma rosa seca num jardim de lágrimas
sem canto ou cores, zumbidos ou beijos
flores molhadas secavam histéricas, estéreis

sábado, 28 de janeiro de 2012

Calada Caminho

calada caminho
lata e linho
luta caduca
endulzar os nãos
mi niño caminha
mendigas mãos
minados orgãos
calada caminho

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

As Águas

sua lua particular pesponta
em mar de sonhos mal vividos
prazeres não sentidos - limbo do irrealizado.
suas águas, seu lar.

tritão rejeita sua coroa carente de madre-pérolas
e a expulsa de seus domínios ouro-azuis.
líquida, ela dança em lago negro e acasala no breu –
o desvario mundano lhe basta entre os panos