Margarida

a margarida é como o sol-
miolo amarelo e orla alva.

certa vez, de longe, observei
um grupo desses mini-sóis
dançando à música do rio que por lá passava.
como testemunha, apenas o azul
habitado por chumaços de algodão.

cena mais bela jamais havia visto.

é que lá, em meio a todas aquelas cabecinhas
amarelas e brancas, também estava Margarida.
e ela lutava. buscava seu miolo e suas pétalas.

como assim?

Veio alguém lá do andar de cima e me disse:
seu tempo acabou!
-como assim?
ontem mesmo estava balançando aquela menininha no parque!
ontem mesmo a levava até à piscina, ou tirava as rodinhas de sua bicicleta!
agora vem alguém e me diz que o tempo acabou?
-como assim?
e quando dançávamos?
eu a guiando, seus pezinhos por cima de meus sapatos?
ou quando pedia um pedaço de seu sanduíche, e ela, receosa,
oferecia, mas sabia que não sobraria quase nada para ela...
depois da mordida ela olhava para seus dedinhos gordinhos segurando um naquito de pão...
-como assim?

Adeus Tardio

adeus -
pois tudo em mim
clama por pontos finais,
embora, às vezes, tenha
que cravá-los sozinha.
adeus.